quarta-feira, 30 de julho de 2008

Olho D'água




Veio atravessando a chuva que me atravessa
a travessa do olhar: caminhos...
Passos pisando poças que meu olho não via
e era quase manhã na mudez do meu lábio.


Um fino traço dos seus gestos risca a vidraça
com o giz da poesia que não faço.
Éramos ermos, dois lados da chuva...


- Seu cabelo molhado... meu, quase meu...


Você se funde, confunde em meio à chuva,
me inunda no que vejo: desejo.
O gosto da espera...

- sei que vou delineando no vapor lírico da vidraça
a graça do teu nome...


De pirraça volto a te sonhar
e no reflexo da hora estoura
a imagem refletida
no espelho das águas:
mágoas de lençóis dormidos.

Tempos idos que não voltam mais... Jamais!

Por detrás da encosta dos dias,
lembranças não cessam, escorrem pela chuva...
Você veio atravessando as águas, molhando os cabelos
que na mina dos anseios eu lavei.


Não sei dizer, até hoje,
se a existência deu-se no meu olho
ou no olho da rua...
A mesma rua que espreitava
a chuva que eu nunca atravessei.



20/11/1996

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