domingo, 26 de abril de 2009

DESDOBRARTE




A espiral da palavra Som
soa e assombra todo tom
que expira outonos e primaveras.
Eras e eras... murmurejar...

Aspiro ao dom de desdobrar-te
pomos e notas espiraladas
em ramas e partituras.
Trituras - oh, canto! -
o esporão do som-palavra...
Lavra do tom-fruto-arte
livre o dom, flutuar-te: leve...
Leve o vento ao veio central da voz!

Inspiro, respiro, suspiro...
O espírito do instrumento,
um movimento em nós: só voz!

Transbordam melodias frasais
aqui, já e jazz
em mim, a espiral do verso,
( quem se espraia no tempo ? )
tendendo à extensão dos meus ais
a desdobrar a arte: DESDOBRARTE
sem mais.




Silvio Torres

Um Quadro de Máscaras





Toda tarde ela Bela
libélula à tarde: Toda ela arde
libreto - livre butterfly!
vai como esvai se a tarde cai...
se abrindo em asas
seda, brisa, pétala...

Asas em brasas à noite
a noite toda
tolda ela - toldanoite - em pálio negro
depois do espelho
da pintura e da máscara
a fantasia operística
a comédia humana
depois do depois
do mergulho
de volta dos homens
em volta das ruas
envolta pela madrugada nua
Sol carmim...Só
no camarim
Carmim deformado em beijos
lampejos de um sonho venal
sob a pintura rasca
Rascoa
Loa de Madame Butterfly

Ela, ainda encena se a cena lhe acena
presa num quadro da parede da emoção:
La Belle, un bel dì

Un Bel dì vedremo
La Belle
em seu último quadro
de máscaras
a sorrir como as asas coloridas
de uma dama butterfly




Silvio Torres