sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Das Brenhas do Sertão







Vêm das brenhas do sertão,
das raízes do país,
onde mestiço-sangue-coração
movimenta a cerviz mas não se inclina
à servis da opressão: Feros senhores vis.

Um Brasil de desterro
erro, ludíbrio e desgosto
é posto aqui pra gente,
posto que a gente daqui
- ab aeterno -
é feita estrangeira,
invasora da sua própria terra.

Aferra o fado colonial
grilhões de ferro e fogo
( ah, esse brasil que arde em brasa! )
queima sob o domínio patriarcal:
Um sol de séculos!
Feitor do chão, estancieiro,
terreiro de trapaça
onde a mão grande subtrai,
trai e embaça
um amoroso espírito brasileiro.

Véu de um Brasil insuspeito,
do leito adornado de raças, saudosas no banzo,
trigueiras, faceiras, retintas ao sol do eito:
preito e vassalagem - memória.

Vêm no pau-de-arara,
no breu da madrugada acesa,
a pé pelo pó da estrada,
no mato desbravando a vida rara.

Vêm vindo em vida crua
vida nua, regrada vida dura
à força e quebrada
na quebrada do seu dia.

Nos babaçuais, seus ais de coco...
Do mais que a vida dá,
a vida dá tão pouco!
Dada vida e nada
na dureza do corte do coco:
quebra-vida, quebra-coco!

Sangue entre palmas
almas, linhas e mãos,
palmeiras babaçu...

- Oh, babaçu! Oh, babaçu!

Quebradeiras na paisagem de Gonçalves:
Dias e  dias de penúria,
fúria e paixão,
à caminho das palmeiras,
eiras e beiras do sem-fim-sertão...

Na palma espalmada mão,
a gente quebra-coco,
a gente sonha alegria-de-sofrimento
e canta e canta e canta
canto o canto cantadeiras:
Vieiras e Franciscas,
Chicas, Diocinas dos Maranhões,
dos rincões dos Brasis em brasa
que a vida queima, sopra e anima: alma.

Sopra e anima e teima e alevanta,
- Ainda mais!,
que um forte não se dobra assim tão fácil,
que um espírito não se perde assim tão cedo,
que um povo não se esquece,
não se esquece assim na dor.



Torres Matrice

27/07/2005

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