sábado, 5 de abril de 2008

Fiandeiras da Poesia


Tear as palavras
feitas à mão e suor,
palavras de algodão.

Descaroçar a palavra,
acariciar o fofo semantema,
ciciar o som macio, cio.
Preparar o tenro léxico,
processar o som do Sim...
Fiandeira da poesia:
mão de poeta.

Transformar a nuvem de algodão,
colher no algodoal celeste
longilíneas linhas aquosas.
As chuvas são linhas
vertidas da nuvem de algodão.
Se distendem,
entretecidas no ar,
se alinham, entrelaçam,
se tecem gota-a-gota,
compõem lençóis líricos,
madrigais, no leito cobreleito
das águas mananciais.

Um pé d'água, Olho d'água:
mina em flor de algodão,
poema do céu.

A mão que escreve,
a mão que lava,
a mão que colheu o algodão
noutras eras:
a negra mão escrava
sobre o algodoeiro
escreveu, como aqui,
rimas de paixão e fé.

Somos trabalhadores
no campo semântico,
escravos da mesma paixão.
Úmidas palavras de algodão...


05/04/2008


Sílvio Torres

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