Tear as palavras
feitas à mão e suor,
palavras de algodão.
Descaroçar a palavra,
acariciar o fofo semantema,
ciciar o som macio, cio.
Preparar o tenro léxico,
processar o som do Sim...
Fiandeira da poesia:
mão de poeta.
Transformar a nuvem de algodão,
colher no algodoal celeste
longilíneas linhas aquosas.
As chuvas são linhas
vertidas da nuvem de algodão.
Se distendem,
entretecidas no ar,
se alinham, entrelaçam,
se tecem gota-a-gota,
compõem lençóis líricos,
madrigais, no leito cobreleito
das águas mananciais.
Um pé d'água, Olho d'água:
mina em flor de algodão,
poema do céu.
A mão que escreve,
a mão que lava,
a mão que colheu o algodão
noutras eras:
a negra mão escrava
sobre o algodoeiro
escreveu, como aqui,
rimas de paixão e fé.
Somos trabalhadores
no campo semântico,
escravos da mesma paixão.
Úmidas palavras de algodão...
05/04/2008
Sílvio Torres
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