sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Pseudo soneto ( retorno )


( para Machado de Assis )



Oh!Flor do céu! Oh, flor cândida e pura!
Oh!Flor literária, ária de encanto, Flor!
Deste-me em teu tempo metafísica dor
de decifrar em tua ópera toda a agrura


De teu agro livro num soneto só...
Não sabendo eu, oh! flor do seu Dom,
se és tu mesmo personas ou nada: pó!
Se é isto o que queres: pequeno som.


Sombra incalculável, Bruxo-flor, obra.
Cobra de teus paraísos a cândida dor.
Deste-me a incumbência desta falha


Que deso.culpado devolvo nesta dobra,
bruxaria que tira-me a vida, ávida Flor.
Ganha-se a vida, perde-se a batalha!



20.04.1999

Dunas


Caminhante...
Delirante em meio ao deserto.
Contra o vento, tempestades de areia,
sopro forte e a soleira na cabeça
essa voz na cabeça!!!

Essa voz, esse chamado...

Essa imagem: tormenta.
Pirâmides de delírios febris
um oásis de desejos sutis
como espadas e seu aço reluzente...

Talvez na mente, no sonho...
Arábica jornada rumo ao nada...

Tempestades de imagens e febres
tórridas, ardentes, lânguidas...
Caravanas do desejo
mouros que se perdem ao longe
tendas de presságios
dunas de paixões que não findam...

Deserto dentro do deserto infindo
indo sempre dentro de mim incerto...
E eu nesta peleja com o feitiço
aceso sob o sol desértico, cigano

E esse Tuareg dizendo - te amo, Bandoleiro!





30.01.1999

É vapor... Eva nascente... Evaporante...


Ela dança na rua sua hora
como quem dança pra ninguém
num plano etéreo - não no palco -
como quem na neblina vislumbra
o movimento dentro de si.
E rodopiando evolui na coreografia,
mapeando a geografia do nada,
cega em busca do absoluto.


Dança como quem se esquece,
como um fluxo de sentimento,
um frêmito inesperado... Ela brilha!


Um torvelinho na alma, decalcada do mundo,
ela sobe como quem se abstrai num sonho.
Ela gira - não sobre os pés! - como quem evanesce, exala...
Como se Etérea fosse, baila entre nuvens...

Cirros-cúmulos, cirros! Cirros no bailado dos cabelos...
Seus cabelos são cirros, são seus, são céus, são sóis quando a sós!


Que tu mexas nos cabelos enquanto mechas, fios, desafios, desalinhos formam a forma de um desenho.
O desenho de um corpo, movimentos de madeixas que tu deixas no bailar...

Ela é vapor, é vapor... Eva nascente, Evaporante, Eva pirante!
Ela evapora, exala, evanesce....................................................................................

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02.02.1999

O Sol Dantes ( para Dante Alighieri )


O sol vem nascendo, é suave,
estrela na linha do horizonte,
luz de um novo dia, alva fonte.
Inspiração clássica! Doce ave.



Ave, Aurora láurea! Salve astro!
Ouro flamejante que ascende
o espírito do mundo e atende
a noite interior com seu rastro.



Aura d'outras eras remotas,
traz seus brihos matutinos.
Num silêncio lampeja rotas,
manhãs antigas, cantos finos.



Louro brilho na fronte de Dante.
Assinalou gênio, beleza e amor,
dum poeta imenso e agora, ante
à luz do tempo, expõe todo fervor.



- Eis, que vejo a humanidade surgir

no horizonte!

Eis, o Sol de Dantes!





29.01.1999

Ad Infinitum...


Contemplo o rio para aprender,
entender os mistérios:
a superfície e o profundo,
o perene e a morte.



Todo rio viaja em seu corpo!

Eterno, contínuo, fluxo...
Findável.



O rio despe-se de si mesmo
numa eterna despedida pranteada:
a mesma água nunca mais,
jamais o que se foi...
O que fui?


Na superfície o reflexo da luz:
espelho do externo - céu!



Na profundeza, a escuridão, o oculto:
os segredos - o sagrado.



A água escorre, corre... tempus fugit...



O homem, liquidez sólida

- ãnima fugit -

escorre em rugas temporais,
esvai-se, corpo abaixo,

(tudo passa e eu confio)

enquanto eu r.i.o...
no reflexo do r.i.o...

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07.02.1998

Derriça da Paixão Cearense

( para Catulo da Paixão Cearense )
Ser tão em flor
desabrochado em Paixão,
em Luar de dor poética...
Ser tão cearense...



Poeta e poesia,
brasileira voz:
lua cheia clareando
o sertão do meu verso.



Flor de viola enluarada
ponteando o coração da gente.
Toada! Toada!



A alma da lua,
na garganta de um galo triste,
faz luar na voz em riste
trespassando meu cantar.



- Ser tão Catulo derriça a alma da gente, sertaneja!







03.09.1997



Flamboyant e Madrigal ( para Luciene )


Flamboyant e madrigal
madrugada dos sonhos:

lembranças...

Flor boiante à flor do dia...
Imensa árvore, clara na mente,
lembrança na clarabóia
da recordação.

Flan das delícias flamboiantes
de raiz, caule, flor e frutos.
Imensa árvore da infância,
imensa tarde sob a sombra luzidia.

Luz e dia
de um farol-mulher a me guiar.



- Oh, maninha!
Que flor tu eras?!
Quem tu és?



Lavanda do meu espírito,
lavavas na bacia,
em água límpida de espelho,
algo que se confunde na lembrança:
roupas, canções, seus sonhos, meus dias...

Meu olhares de menino...
Madrugastes, madrigal,
em flor boiante do passado.
Agora és flor do meu verso,
canção pastoral em muitas vozes:
alaúde, clavicímbalo, harpa:
flores de um cromatismo intenso!



- Oh, maninha...



Flor-flamboiã do meu passado,
vermelha como o amor,
caindo suave, doída, no colo,
nesse amplo e fenestro
quadro da memória.

Dias verdes desta vida,
tesura de alabastro,
balaústre do meu viver...



- Cantigas de irmã...
Tudo para sempre.







05.11.1996